Uma categoria que, ao longo da história, tem mostrado o seu valor e contribuição em prol da saúde e bem estar da população.
Há muito tempo o estigma de dor e sofrimento deixou de estar associado à Odontologia, fruto não só da evolução técnica dos equipamentos atualmente utilizados mas principalmente pela mudança de perfil dos profissionais, das práticas odontológicas e por que não dizer das políticas públicas atualmente desenvolvidas no país. As extrações dentárias aos poucos vêm dando lugar aos procedimentos preventivos e com isso a população está cada vez mais consciente sobre prevenção de cáries e de doenças gengivais. Medidas coletivas de saúde pública, a exemplo da fluoretação das águas, têm reduzido substancialmente os índices de cárie na população. Os serviços de saúde pública estão melhor organizados, principalmente na atenção primária (representada pelas unidades básicas de saúde que compõem o Programa Saúde da Família – PSF) e na atenção secundária (representada pelos Centro de Especialidades Odontológicas).
Dentes antes condenados à remoção, atualmente podem ser tratados de forma conservadora no próprio serviço público. Verdade que as vagas ofertadas e o número de serviços públicos ainda são insuficientes para que os governantes “paguem” com juros e correções a dívida histórica para com a população, que ao longo dos anos ficou à margem de tratamentos odontológicos conservadores.
A profissão ampliou seus horizontes e hoje são 19 especialidades responsáveis por tratamentos que variam desde as tradicionais restaurações dentárias até cirurgias de deformidades de face, passando pelas reabilitações protéticas e por implantes osseointegrados, tratamentos dos distúrbios da articulação têmporo-mandibular e das dores orofaciais, correção dos traumas de face, remoção de cistos e tumores benignos dos maxilares, entre outros. Muitos procedimentos são realizados em ambiente hospitalar. Para se ter uma idéia, em Fortaleza três grandes hospitais públicos possuem serviços odontológicos de cirurgia bucomaxifacial, no caso o HGF, IJF e Hospital Universitário Walter Cantídio, os quais diariamente tratam pacientes com os mais diversos agravos à saúde.
A tecnologia tem dado o suporte necessário aos avanços profissionais através da excelência dos exames por imagens, do uso do laser, da prototipagem prévia aos procedimentos cirúrgicos, materiais de titânio para fixação óssea e reabilitação oral (implantes), cadeiras e equipos odontológicos mais ergonômicos e com melhor condição de biosegurança, enfim, estamos no rumo certo do ponto de vista técnico-científico.
Na contramão dos avanços estão as condições de trabalho e remuneração atualmente disponibilizadas aos profissionais. Ao recém-formado as principais alternativas são: consultório privado, plano de saúde ou ingresso no serviço público, além daqueles que pretendem a vida acadêmica e buscam cursos de Mestrado ou Doutorado. Em relação à iniciativa privada não tem sido tarefa fácil para os iniciantes na profissão se firmar, visto que os pacientes particulares são cada vez mais escassos e para se credenciar a um convênio odontológico, via de regra, há necessidade de um curso de especialização (os mesmos são pagos e inviáveis para a maioria dos recém-formados). Sobre os planos de saúde nem sempre a condição de trabalho é ideal e os direitos trabalhistas em sua maioria negligenciados, além do que, a remuneração deixa bastante a desejar, apesar do grande volume de trabalho. Ressalte-se que também há bons planos de saúde, cabendo ao recém formado buscar aquele que mais o valorize enquanto profissional e ofereça o tratamento mais digno aos usuários. Sobre o serviço público a principal opção é o PSF. Muitos municípios necessitam de cirurgiões-dentistas em suas equipes, não sendo tarefa difícil para o recém-formado conseguir um local para exercer seu trabalho, principalmente se o mesmo entender que estar no interior do estado não representa retrocesso e, ao contrário, pode representar melhor qualidade de vida e melhor possibilidade de interagir com a comunidade assistida pelo profissional. O grande problema tem sido a forma de ingresso no PSF, geralmente por indicação, deixando o profissional refém do gestor que o contrata, inclusive inibido na reivindicação por melhores condições de trabalho, remuneração e estabilidade. As Coordenações nacional, estadual e municipal de saúde bucal existentes respectivamente no Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza representam importantes avanços em prol da Odontologia pública, cabendo aos profissionais lutar sempre por melhorias. É inaceitável o salário atualmente oferecido pela maioria dos municípios, que precarizam seus serviços e os oferecem em condições inadequadas à população.
As entidades odontológicas, Conselho Regional de Odontologia do Ceará, Sindicato dos Odontologistas do Estado do Ceará, Associação Brasileira de Odontologia – Secção Ceará e Academia Cearense de Odontologia, têm unido esforços em prol de uma Odontologia mais digna e justa para profissionais e pacientes, e, apesar dos grandes obstáculos (ingerência sobre as gestões, falta de concurso público, dificuldade de mobilização da categoria, etc), cada qual em sua função específica muito têm feito em defesa da classe, seja fiscalizando as consições de trabalho, seja lutando em prol de melhorias salariais ou mesmo promovendo formação profissional.
O certo é que, em todos os âmbitos, privado ou público, os profissionais da Odontologia têm marcado presença de forma positiva e atuante, prestando relevantes serviços à população. Temos profissionais tecnicamente com excelente formação e grande potencial para desenvolver seu trabalho, porém se faz necessário um maior reconhecimento a este valoroso trabalho. Avançamos muito, mas teríamos muito mais a comemorar se tivéssemos melhores condições de trabalho e remuneração. Perguntem às pessoas sobre o valor e a credibilidade dos cirurgiões-dentistas e encontrarão a melhor resposta sobre a importância desta categoria. Vamos comemorar o nosso dia sim, mas jamais nos conformarmos ou nos acomodarmos diante da falta de valorização e reconhecimento. Sejamos mais unidos e mais fortes em busca de nossas melhorias.
Autor: Alexandre Nogueira
Coordenador do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Campus Sobral e Presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de Odontologia do Estado do Ceará (CRO-CE)